Pedro Fiuza nasceu em mil novecentos e oitenta. Ainda é cedo para qualquer nota biográfica.

texto 8

Tenho esta forma de fixar as coisas negativas: andar nas ruas circulares, meditar diálogos possíveis, desconhecido. Não me cabe na cabeça uma aventura criminosa – aquilo que implica a esperança mínima acelera o meu ritmo cardíaco – prefiro uma criação sem base sólida: o egoísmo. Irrita-me qualquer genialidade, chama o vómito, enfio a cara na sanita e solto a água, infiltro a humidade nos cabelos e na boca. Nunca tive apetência para coisas surpreendentes, tenho um gosto esquisito, aprecio as ninharias em forma humana, a história medíocre. Até já me julguei um portador de uma verdade reveladora, um profeta do mundo cego! Para quê? Que verdade merece ser bandeira? Um dia acordei com um sabor alheio, um corpo desconhecido, tentei ficar sem memória – o profeta mais a profecia tinham partido com uma qualquer mentira. Lavei a cara e as mãos, o corte com a idade.

Hoje faço o que posso para mandar as máscaras para um exílio. Já não aguento ver as belas borboletas, prefiro estudar-me com banalidades. A minha vida de estrangeiro é reveladora de segredos. Não sou um místico (a vontade não apela a nenhuma fantasia ou delírio religioso). Fechei-me para ver. Abro-me sempre na mesma via, um mundo patético, invertido: a palavra que uso possui o frio da sombra e a consciência da incerteza. Adoraria expressar-me só com palavras ordinárias. A acção de hoje é um fracasso de vários pensamentos, o pessimismo foi abafado por uma grande inconsciência. Qualquer confissão objectiva deve ser abolida deste mundo.

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