Pedro Fiuza nasceu em mil novecentos e oitenta. Ainda é cedo para qualquer nota biográfica.

texto 7

Estes são os tempos do carácter homicida, os tempos que escapavam, que pareciam ter tido o seu fim silencioso no meio da vergonha da carne morta e da terra árida. Os tempos… tempos que voltaram a ter lugar no centro do caos, mundo, revoluções, simpatias que se ficaram pela apatia da conformação da boca e do esquecimento do corpo e do sonho. O sonho deu origem ao vício do adormecimento, o corpo envelhece na sua bolha de ilusão e de discurso. As crianças brincam aos gigantes eternos, lutam na inocência guerreira de quem se alimenta dos fracos, mas o que é isso da fraqueza? Que marca interna constrói a mente quando fala dessa fraqueza exterior? Que invenção é essa incapacidade? Qual o interesse em explorar as coisas sem sentido? As coisas ineficazes? De vez em quando não se adormece e pensa-se na insegurança do acordar. Será que podemos viver? Seguir a gramática do mundo e as normas do funcionamento estabelecidas sem nexo verificável, as máscaras da igualdade, da possibilidade, do escape, da confusão… Ah! Grito o meu silêncio e a minha cobardia para atacar a estirpe directa do vírus, eu próprio. Quero afogar-me na felicidade que tento ter mas já não tenho a casa com vista para a cidade que projecto nas minhas noites.

Também quero falar disto. É uma altura de decisões pessoais sem precedentes na vida. Tenho uma janela que abarca mais do que aquilo que consigo percorrer descalço. Olho e tudo é imóvel. O tempo vai faltando. O horizonte fecha as possibilidades de escolha. O fantasma pergunta se me afogo agora e não sei que lhe responda, dedos estranhos na minha garganta, há algo que me aperta de uma forma que desconheço, não são carícias, as unhas espetam, os dentes rasgam, os olhos alimentam-se de uma imagem que se defende e que se mantém para que sobreviva o que não surge. Antros de vampiros que nos dão palmadas nas costas com mãos de pêlo, de veludo sintético, de expressões que são mentiras estudadas com a experiência secreta, a masturbação do poder, a posição intocável do poder, A VERDADE É QUE NÃO SABEM NADA MAIS DO QUE AQUILO QUE SÃO E TUDO O QUE SÃO É UMA MENTIRA FEITA COM TUDO O QUE NÃO SABEM, são bichos das cavernas da história, dos sub mundos.

A lua hoje está enorme, não sei se cheia. Há um silêncio. A música que ouço ocupa a noite, primeiro clássica, um requiem, depois dá-me a energia do tipo chato, rock, antigo, a velha guarda da boa, porque há velha guarda da boa, nós é que estamos entregues a uma bicharada convencida das suas ninharias, insisto em detestar toda a geração revolucionária, que chatos, pastéis, empregos, grotescos. Saiam daqui!!! Vá!!! Parece que querem sugar a juventude para alimentarem as frustrações de nunca terem sido nada, pesados. Todos os monstros sagrados deviam ser de barro, no fundo são, por isso é que se protegem da queda.

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