Pedro Fiuza nasceu em mil novecentos e oitenta. Ainda é cedo para qualquer nota biográfica.

texto 16

Fomos entrando nas casas do outro. Quebrando as paredes que os problemas da memória tecem quando atacam o pensamento. Fomos entrando. Assim a construir um presente real sem a pequenez das coisas. Talvez lutando contra os sentidos alheios, os mártires da vontade gritada, do grito surdo, mudo, seco. Entrar nas casas é acreditar na visita, é prometer o regresso. O medo é sempre o de caminhar. Ou o medo é sempre um caminho. Caminhar é responder. Fomos andando em espirais. Fomos andando para a frente enquanto voávamos no mundo, secretamente, a saltar. Não tenho vergonha de dizer que nos admiro. Não me custa dizer que nos amo. Que nos canto. A tua luz. Quando bate nas pedras e revela a sombra do tempo. Insinua-se absoluta na minha realidade visível. Estou aqui. Triste na minha solidão já normal. A pensar em ti. Na tua imensidão. A querer que fiques. A querer ficar. Tenho os ombros com sono e a barriga apertada. Estar contigo. Estar em ti. Estares tu em mim. Estarmos. Respirar e viver. E andar. E viver mais. E sentir-te. E sentir-te outra vez. E mais uma vez voltar a sentir. Só a sentir. Amar-te simples. Quase infantil. Quase a brincar. Nas tuas mãos há um país de esperança. Soltam-se os gatos ao som de música. Os gatos riem-se nas tuas mãos. Sobem por ti acima até te chegarem à boca. Para te beijarem eternamente.

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