Pedro Fiuza nasceu em mil novecentos e oitenta. Ainda é cedo para qualquer nota biográfica.

texto 17

Sento-me e espero. É tudo uma questão de silêncios. Não procuro nada dentro de mim. Talvez não defenda nada. Espero. É a minha acção continuada. Recuso a visita de qualquer pensamento. É uma espécie de nudez. Uma forma interna de esquecimento. Vou para a rua. Ando. É uma imagem fantasma. O dentro é diferente. Sentado e à espera. Os pés marcam a hipnose. A cabeça de hoje consegue assumir o seu vazio. Cabeça janela. Cabeça à janela. Tudo passa. Vai-se com o desenrolar do mundo. O mundo desenrola-se enquanto eu espero. Eu vejo o mundo desenrolar-se com a minha cabeça despida. Silêncios. Tudo são silêncios por preencher. Silêncios para agarrar. Espero o quê? A resolução do segredo. Uma revelação. Um desenrolar de mim no mundo. Para o mundo. Do mundo. Do mundo. Reforçar para chegar ao silêncio. Reforçar-me para chegar à convicção de que vale a pena esperar porque nada mais importa para além do segredo. E depois do segredo revelado nada mais importa do que a sua resolução. As coisas tornarem-se finalmente coisas. Gritar no meio do silêncio para poder quebrá-lo. Gritá-lo convictamente. Certeiro. Mortal. Sair de mim porque o dentro já não é suficiente. Beijar o mundo. Beijar o segredo. Torná-lo na forma de amor mais pura. Fazer do segredo uma forma superior de luz. Agora é tempo. Já é tempo. Sento-me e espero o meu levantar. Vou para a rua e o andar deixa de ser uma imagem fantasma. O andar passa a ser a forma mais real de respirar. Sente-se o amor de uma forma quase louca. O corpo acende-se com o movimento do mundo. O mundo tem um nome que me visita enquanto durmo. Sonho constante. Não quero acordar. Talvez a minha espera tenha esse ar sonolento porque não quero acordar nunca mais do meu sonho. O sonho nomeado tantas vezes na cabeça despida e esquecida de si mesma para ter mais espaço para o nome. Nada mais. Nada mais. Nada mais importa para a cabeça. O nome aproxima-se. Agarra na minha mão. Eu estou sentado à sua espera. Antes não sabia da existência do nome. Agora não. Agora peço que o nome me agarre na mão e me leve e me embale no meio da vida. Peço que o nome seja verdade. Peço que o nome me leve no seu voo distante. Que me leve consigo até não haver regresso. Que o nome se torne eu e eu me torne no nome. Que o nome me ame como eu o amo. Que o nome me queira como eu o quero. Que o nome me sinta mágico como eu o sinto mágico. Perfeito. Tudo. Toda. Incrível. Só quero que me ames. Muito. Como eu a ti.

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